segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do outro lado da Galheta...

É engraçado como a vida nos coloca oportunidades, desde que estejamos abertos a aceita-las.
Em um momento, sem perceber, estava em contato com duas personalidades da qual me sentiria amigo de anos. Alba e Evelyn se tornaram amigas minhas por intermédio da rede social FACEBOOK, que por alguns anos eu próprio (desculpem a redundância) me auto-excluia, por motivos bem pessoais. Em dado momento, quando resolvi me render aos prazeres dessa rede (risos), conheci essas meninas, que detém um senso crítico enorme, com opiniões bem formadas e inteligentíssimas...
Ao me convidarem para fazer parte de um passeio, vi que um sonho de anos estaria próximo de se concretizar. Tinha estudado várias referências anos atrás, sobre a importância histórica, cultural e ambiental do lugar. Havia lido muito a respeito de sua fauna, das construções, dos complexos, do contexto social, enfim...
Estava indo para a “paradisíaca” Ilha do Mel.
Durante a semana fomos combinando os detalhes, mas tudo só ficou verdadeiramente acertado na manhã de sexta-feira (30/09/2011). Evelyn já havia se evadido da capital paranaense na manhã de sexta. Alba, por motivos acadêmicos, iria comigo no sábado matutino.
Portanto, as 06:30 da manhã de 01 de Outubro de 2011, Alba embarcava na joaninha em direção ao pequeno porto que leva à “Honey Island”.
Conversando do começo ao fim nem vi o tempo passar, uma curva após a outra chegamos ao final da primeira parte de nossa aventura. Chegamos logo após as 08:10 no referido porto de embarque e conseguimos escutar o motor da embarcação que passava a alguns metros de distancia de nós... Havíamos perdido o barco, o próximo com saída prevista somente as 09:00hs. Sem pressa, estacionamos o carro, fizemos os preparativos para a partida, compramos a passagem e tivemos tempo para um bate-papo com Andrey Romaniuk, conhecido escalador e montanhista, que estava por aquelas paragens mudando um pouco ares.
Para mim era tudo novidade, afinal, só conhecia aquilo tudo pelos livros, folders, músicas e sites que tinham a Ilha como tema.
Partindo de Pontal do Sul, o trecho da travessia pelo canal da Galheta dura em média de 20 a 30 minutos. Uma travessia bonita que com a aproximação da ilha, foi tornando o contorno mais claro e concreto daquele bioma. A embaração atraca em um trapiche já um tanto surrado pelas interpéries litorâneas, mas ainda cumpre bem o seu papel. Para os incautos vale uma dica: Antes de embarcar, verifique em qual barca você está entrando, verificando qual será o seu destino: BRASÍLIA ou ENCANTADAS, no retorno é bom perguntar se estará voltando para Pontal, caso contrário, você dará um passeio em Paranaguá...
Alba Kosinski, descendente de poloneses (eu continuo insistindo que é de ucranianos, ainda mais quando falou que a origem de sua família é da Galícia), é uma figura encantadora, com algumas décadas de dedicação ao pára-quedismo e ao ensino, leva a vida de forma despreocupada, levando consigo a experiência simples de como ser feliz. Espírito inquieto, estudou até o que não podia, o que nos faz ficar de olhos vidrados quando começa a dialogar. Conhecedora da região, foi de certa forma, minha guia pessoal, contando detalhes do relevo, das construções e dos hábitos bem peculiares dos moradores.
Evelyn Laitz, “the English Teacher”, é uma paulista que se encontrou em Curitiba. Possuidora de qualidades invejáveis como serenidade, confiança, inteligência e senso de humor, faz também com que nós tenhamos uma proximidade muito grande, como se fossemos amigos de anos. Nunca fica parada, vive viajando e tenta apropriar-se do máximo de conhecimento que puder. Sempre disposta a pensar, cria situações para que sintamo-nos a vontade. Uma graça de pessoa, preocupada com o bem-estar de seus companheiros, já estava nos esperando no centro de visitantes, que fica no final da passarela do trapiche de BRASÍLIA...
Após breves saudações, segui com olhos atentos os metros de trilhas que nos levavam ao MARIMAR Hostel Internacional, local em que nos acomodamos. Percebi durante a caminhada as diversas trilhas e ramais que saíam, ora pela esquerda, ora pela direita, da trilha principal. Ficava imaginando para onde aquela grande teia daria, e qual eram as belezas que ficavam ao final de cada ponto dela.
Entre uma pousada e outra, intercalada com os restaurantes que ali figuram, as paisagens vão se modificando. E entre um clique e outro, vamos caminhando, entre as trilhas, praias ou descendo (no melhor estilo escalada) as pedras que ficam na orla, chegamos na tão famosa Gruta das Encantadas. Reza a lenda, que alguns pescadores e visitantes que passavam por ali eram hipnotizados por uma linda sereia, que detinha uma voz encantadora. Os homens, loucos de amor e em transe, se jogavam ao mar, ou entravam enamorados na gruta. Quando a maré subia morriam afogados, pagando seu amor com a própria vida. Céticos acreditam que o álcool etílico tem o mesmo efeito ali...
Após vários cliques, com direito a dois pequenosboulders nas paredes rochosas, fomos em direção a uma outra vila distante 600 metros da gruta: A Encantadas. 

Estimulamos o comércio local, e resolvemos que continuaríamos o bate-papo na barca que faz o tráfego entre Encantadas e Brasília. Após alguns minutos, estávamos atracados novamente em Brasília e nos dirigimos por uma trilha até a Praia do Farol para esperar o por-do-sol daquele local que foi erguido sob a ordem do Imperador D. Pedro II em 1870. Mas como nada nessa vida é tão certa, o sol, sem nossa permissão, acreditou que poderia se recolher sem mostrar seu esplendor e beleza... Ele estava certo...

Voltamos para nossa pousada pela orla marítima como a brisa fazendo cócegas em nossos rostos felizes e, ao chegar no Marimar, conversei com o simpático administrador da pousada. Ouvi suas estórias e apontamentos sobre o lugarejo e continuei fazendo minhas perguntas, voraz de conhecimento. Donizete comentou como viviam ali sua esposa, seu casal de filhos e ele; e de como esse pé-vermelho de Nova Londrina, cidade do noroeste do Paraná, veio parar ali. Fala com um carinho especial da Ilha, aliás, isso é sempre uma constante.
Em escala, fomos revesando no banho e após um saboroso vinho, resolvemos dar uma voltinha, quase uma procissão, pelos forrós que teriam naquela noite. Porém, uma chuva tímida começou a cair e deixamos de visitar o bailado mais distante, dando uma breve passada nos outros dois mais próximos. Em tempos idos o forró corria solto nas vilas praianas, porém o que se vê hoje é na verdade a introdução do “Sertanejo Universitário”. Portanto, é um evento chamado forró que não tem forró, de uma música chamada sertaneja que de sertanejo não tem nada, enfim, modernidades...
Vencidos pelo sono, fomos embalados pelo suave sopro de Morfeu. Envolvidos pelos braços aconchegantes do Sono descansamos para mais um novo dia que estava por vir.
Choveu a noite inteira e a metade da manhã também. Quando estávamos já resignados eis que a chuva deu uma trégua e, sem pensar muito, tomamos nossas mochilas de ataque e nos colocamos a caminho da Fortaleza.
A Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres foi construída em 1767 a mando do Rei José I de Portugal, para resguadar o império das invasões estrangeiras que aconteciam durante os séculos XVIII e XIX. A Fortaleza contém em seu pátio de guerra alguns remanescentes de canhões do final do século XVIII. No pátio principal, jaz em perfeitas condições a atual Administração e uma biblioteca comunitária muito bem formada, com um excelente acervo e bem próprio para o local, as coleções que estão ali são de enchem de entusiasmo um amante da leitura, nesse lugar funcionava a Casa de Guarnição; ainda no pátio principal temos o paiol de pólvora, que hoje é utilizada como almoxarifado, as ruínas da casa do Comando (Quartel-General) e as ruínas da Casa Soldadesca (Quartel da Tropa). Mais a frente, na lateral do pátio, olhos atentos verão as pedras que serviam de pilastras onde estava erigida a Capela em honra da padroeira do Forte e, logo mais adiante, uma fonte d'água onde os que ali trabalhavam serviam-se de água doce. Em um patamar meio metro mais baixo, bem em frente a Administração está o portal principal da fortaleza, onde se encontrava a cadeia, duas salas administrativas e onde se encontra as duplicatas, originais da época, das égides que figuram e adornam a entrada principal da Fortaleza. Uma verdadeira obra de arte, onde os olhos se enchem de orgulho diante de tantos detalhes e percebem como que, em tempo remotos, as edificações iam muito além apenas da funcionalidade. Feitas com amor e estima, um primor que deixa ensandecido um “historiador curioso” como eu. Ao lado da Administração começa a trilha que leva ao alto do Morro da Baleia, lá estão canhões mais recentes, do inicio do século XX (1905-1912). De um mirante, é possível ver um pedaço da ilha, a baia e a Ilha das Peças.

Durante a volta, passamos pela vila de Nova Brasília, lá se encontra o reduto estudantil, formado pela escola que atende do ensino fundamental ao médio.
Em todas as vilas ( Nova Brasília , Fortaleza, Vila do Farol e Encantadas) mas principalmente nas duas últimas, foi onde realmente eu vi o encanto da Ilha do Mel. As vielas são relativamente estreitas, porém largas para sua função, a passagem de pedestres, pois não há carros transitando por lá. O transporte logístico de materiais e mantimentos é feito em um material parecido com padiolas, pois são carrinhos de madeiras sobre eixos com pneus de carro. A via é cercada de vegetação e areia que em conjunto com as estruturas de madeira e vidro das construções, compõem uma certa aura de tranquilidade e harmonia, no melhor estilo “psicodélico-alternativo-bicho grilo”. As crianças e os cães brincando na praia sem nenhuma repressão e tampouco preocupação tão um tom ainda maior de simbiose ambiental comunitária. Em um misticismo difícil de explicar, parece que até mesmo o bater de asas de uma borboleta é um sinal de que a natureza lhe agregou também.
Passei dois dias incríveis na companhia de duas excelentes pessoas. Pareciam quatro dias, de tão intensas que foram essas vivências, mas de modo algum foi sacal. As conversas, muitas descomprometidas, outras um tanto profundas com caráter de conhecer o âmago dos companheiros de aventura, foram um divertimento à parte, que renderia um texto complexo e extenso para discorrer sobre o assunto.
Quando estávamos indo para o trapiche para voltarmos a civilização, que ocorreu sem maiores problemas, vi duas moças que caminhavam em sentido contrário ao nosso, indo para o interior da ilha; conversando, uma delas fez o comentário mais pertinente a respeito desse canto maravilhoso:
“- Que isso aqui é um paraíso todo mundo sabe... Quero que alguém me conte agora uma novidade!”

Um comentário:

JOPZ_B1B disse...

a ilha do mel é muito show... tive o prazer de acampar por lá uns 20 anos atras, antes da invasão das pousadas, dos trapiches e tudo mais... com o tempo o comercio e a suas estruturas surgiram, a ilha mudou em alguns pontos para melhor, continua bonita, mas perdeu seu ar de local selvagem, mas mesmo assim pra ir e retornar sempre.

JOPZ