quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Na Sombra do Ibiteruçu

"Ou seja: Achamos que a conquista daquele local era dos "Cachorrões da Serra", mas estávamos errados: ALGUEM JA PISARA ALI EM IDOS PASSADOS..."

          Dia normal se não fosse pelo inesperado convite de um dos integrantes do neo-grupo montanhistico “Cachorrões da Serra". Esse grupo consiste numa derivação do CPM (Clube Paranaense de Montanhismo), onde alguns de seus membros, por terem mais afinidade, andam com mais freqüência nas serranias. Esse mesmo grupo, algum tempo atrás, ficou conhecido por abrirem uma bonita e exigente trilha no lado leste do Ferraria e , ao que tudo indica, continuam gostando da porção leste da Serra do Mar paranaense.
     Com algum segredo, meu contato me deu pequenas dicas de onde iríamos abrir uma nova vertente para um cume desconhecido. Não foi difícil juntar as peças e me localizar espacialmente de onde deveríamos galgar serra acima.
     Semanas antes, esse grupo já havia criado uma trilha nova, partindo de Antonina, na Fazenda Lírio do Vale, para um cume ate então nunca galgado. Jamil dos Santos e Juliano Volpini foram os precursores da trilha, subindo através de uma fenda na rocha, alcançando na primeira investida um rio na cota 740.  Em uma segunda ascensão, conseguem chegar ao primeiro cume na qual, sem referências anteriores, a batizam de Jacutinga, nessa ocasião estão presentes Josafat Kaczuk, Alex Pacheco, Jamil dos Santos e Alexsander Machado, lembrando ainda que existe mais um integrante neste grupo : Diego Leineker que, justiça seja feita, foi um dos conquistadores da Face Leste do Ferraria.  Portanto, a idéia das próximas investidas era chegar ao cume, descer ao vale e apos uma abrupta curva, seguir para um outro cume, também, hipoteticamente, nunca pisado por montanhistas. Esse era o plano que me convidaram a participar.
     Chegamos na fazenda por volta das 22:00hs de sexta (06/01/2012) e apos um delicioso jantar, descansamos os corpos para no outro dia sairmos cedo.
     As 08:00 hs saímos morro acima para, em um ponto estratégico, guinarmos para a esquerda e sempre o fazendo, afinal, circularíamos a referida montanha, para achar uma vertente mais tranqüila e não tão íngreme para atingir o cume já conquistado por esses cavalheiros. O que encontrei em minha frente foram três cabeças pensantes, pois ao ver a trilha que seguia em minha frente, aberta e escolhida como a vereda mais simples para alcançar o píncaro, só posso elogiá-los quanto à escolha e abertura do caminho; sem poder esquecer também, que os desbravadores serranos não se esqueceram de dar uma vasculhada para achar água, peça fundamental para a boa permanência nesse tipo de local.  Outra grande sacada do grupo foi quando acharam uma fenda para continuar subindo, caso não tivessem um certo "talento", a empreitada estaria fadada ao fracasso diante desse obstáculo.
     Estaria tudo em ordem, afinal saímos com um ótimo tempo da base, se não fosse a Serra do mar em tempo de verão. As 12:00 mais ou menos, o tempo começou a virar e o que se viu foi uma forte chuva gelada com raios que se faziam ouvir não muito longe dali. A idéia era chegar ao primeiro cume e descer abrindo a picada ate o vale, armando acampamento próximo de um córrego ainda desconhecido, mas como chegamos ao cume encharcados, embaixo de muita chuva e raios, ponderamos que descer para o desconhecido não seria uma boa idéia, ficar no cume seria pior ainda, pois nos tornaríamos um ótimo para-raio. Acertamos que deveríamos voltar um pouco antes do cume, em local mais baixo, armar uma tenda provisória e torcer para  a chuva dar uma  trégua. Dessa vez, a natureza venceu.
     Mesmo com torcida, a chuva continuou a cair, portanto, resolvemos que ali seria um bom local para acampamento definitivo, demarcamos a área e esticamos sobre nossas cabeças toldos, trabalhar seco e quente é bem mais interessante. Como o tempo não ajudou, ficamos papeando e, obvio, a tiração de sarro correu solto, principalmente dos ausentes; alias, senso de humor é o que não falta a esses senhores.
      Gostaria de discorrer sobre os participantes desse grupo: Percebo que cada um deles tem um certo "papel", mesmo que sem intenção.
Jamil dos Santos, já na casa dos 40, parece um brutamonte, com cara de enfezado, mas ri como ninguém. Responsável, exerce uma certa liderança no grupo e  acaba por organizá-lo para que o mesmo funcione de forma auto-sustentável.
Josafat Kaczuk, 37, (me perdoem a expressão) é a mãezona do grupo, aplicado por fazer o melhor de si pelo outro, está sempre preocupado com o bem-estar dos demais, colocando o conforto do outro acima do seu. Religioso, respira a família e a natureza num pe de igualdade. No grupo, faz às vezes do equilíbrio, lembrando seus consortes sobre a prudência que deve envolver esse tipo de atividade.  
Alexsander Machado, 32, é uma figura. Espontâneo e carismático, faz as vezes do bom amigo. Exerce no grupo duas funções importantes: a de cozinheiro e a de timoneiro, traçando e seguindo as rotas em meio a selva. Cozinheiro de mão cheia, aprecia criar novos sabores e aromas para que seus amigos degustem e tirem a barriga da miséria de uma forma, como posso dizem, "bon vivant". Inteligente, busca informações paralelas dos lugares aonde vai, para obter uma visão mais robusta, holística e completa de suas viagens.



      Lembrando que, de forma alguma no grupo esses "cargos" foram definidos conscientemente, mas se tornam visíveis pelo próprio perfil de cada integrante, onde cada um se sobressai em determinada atividade correlata.
     Bem, como a chuva não parava de cair, ficamos enchendo o bucho e conversando, dando gargalhadas e etc...
     Domingo de manhã, mais nada a fazer, hora de levantar acampamento e ir embora. Logo apos um demorado café, guardamos as coisas e rumamos morro abaixo em direção ao litoral. Qual nossa surpresa, ao verificar que, uns 10 metros de onde acampamos, surge ao lado da trilha um cano de ferro que desce a encosta no morro. Ou seja: Achamos que a conquista daquele local era dos "Cachorrões da Serra", mas estávamos errados: ALGUEM JA PISARA ALI EM IDOS PASSADOS.


     Um cano, entre 1’ e 1 ½’ polegadas, descia o morro em direção, suponho eu, da válvula borboleta da UHPS. Em sua ponta, três hastes curvadas em forma de alça de xícara jaziam enroladas com fio de luz encapado vermelho, já um tanto desbotado. Fica o mistério, nem tanto para onde seguia morro abaixo, mas de onde vinha... Qual era sua finalidade? Água? De onde se estávamos no cume?


     A descida se fez rápida, e optamos por um desvio ate a cachoeira do Saci, para tomarmos um banho antes da chegada na Fazenda Lírio do Vale.
      Fui tratado muito bem durante minha participação especial nesse grupo  e fiquei lisonjeado pelo convite e pela confiança a mim depositada por eles, afinal, não terminaram a trilha, muito menos o projeto que, diga-se de passagem, é ambicioso mas totalmente viável.
      Gostaria de ter meu nome gravado no final dessa empreitada, como um de seus colaboradores, mas isso depende de um novo convite da Cachorrada... Quem sabe, não é mesmo? “Partiu (- via facebook - proximo a Antonina)” Auuuuuuuuuuu