quarta-feira, 11 de julho de 2012

Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte Final -

            Nova apreensão, fiquei imaginando como seria essa passagem.  Haveria correnteza? Água acima da cintura? Poderia passar pelas areias da praia em segurança? Lembrei da temida cachoeira que havia passado minutos antes e voltei a sofrer. 

          Comecei a subir a ladeira e logo vi a praia que atingiria em poucos minutos. Fiquei ressabiado e retornei, pois o morador disse-me que chegaria na praia do Sono em 40 minutos. Ponderei que estava no caminho errado, dado a proximidade da praia. Pedi auxilio em uma casa, onde uma criança de uns 5 anos me recebeu; não entendi direito e não acreditei muito em suas palavras. Procura daqui e procura dali retorno e passo novamente pela casa na qual tinha feito a refeição. Bato em uma nova casa e logo sou recebido e informado que estava no caminho certo. Como estava fora da temporada, as casas estavam majoritariamente fechadas e isso se enaltecia por decorrência da chuva, pedir ajuda e informação era atividade que exigia tempo e uma seqüência de “vai-e vens” no caminho. Lembrava do morador me falando da Praia do Sono, mas esqueci completamente que ele havia me falado que em 10 minutos estaria na Praia das Galhetas, uma praia excêntrica, onde não há areia e sim uma imensidão de pedras pelas quais galguei. Ao chegar em uma ponte pênsil, vi temeroso o rio que corria furiosamente em direção ao mar e a violência com que se encontravam. Com cuidado, ultrapassei a ponte, rezando para que ele fosse o rio que o morador havia me falado, ou que, por um milagre, ele não tenha tido noticias da construção de uma ponte. Pensamentos para acalentar a mente... Manter os nervos em ordem, seguir adiante. O temor continuava!
         Passei pela Praia dos Antigos e vi que havia dois pares de pegadas que vinham em direção contraria da que eu estava indo; um descalço, provavelmente de um morador, e outra que parecia ser de uma bota. Ora, respirei mais aliviado, afinal, se as pegadas vinham em minha direção, vindo da Praia do Sono, então eles passaram pela barra. Se eles passaram eu passo também. Fico surpreso com a proximidade com que a Mata Atlântica encosta a pouquíssimos metros do mar. Sempre vi o mar, um trecho de areia, a vegetação de restinga, uma longa faixa de vegetação mais baixa e, depois de quilômetros, o inicio da Mata Ombrofila Densa. Aqui a separação é de apenas alguns metros.
          Depois de cruzar a Praia dos Antigos, como de praxe, iniciei a subida e cruzo com um casal de caiçaras, perguntei se haviam passado a barra e o homem afirmou que sim, mas que o nível já estava alto, água pela cintura. E que, se meu plano era atravessar, deveria apressar o passo, pois em poucos minutos não haveria mais possibilidades de cruzar essa barreira natural. Logo em seguida, alcança-me um esportista, corredor em treino; logo percebi seu camelback e seu calçado da renomada “Salomon”, com certeza não se tratava de um morador local. Perguntei se havia passado pela barra e ele afirmou que havia passado por volta das 10:00 hs; comentei que poderia haver problemas na travessia... O corredor pergunta-me o motivo e eu respondi o que o morador havia me falado: água na cintura. Situação meio engraçada, pois o corredor fez uma interpretação errada dizendo-me: Algum problema? Água por água... (eu estava inteiramente molhado). Não quis me referir ao ato de me molhar, mas ainda não sabia como era o rio e pensei que água acima da cintura a força da água poderia ser grande... Enfim, no mirante da Praia do Sono o corredor seguiu seu treino e desci vagarosamente a encosta íngreme e lisa com minha pesada cargueira. Ao chegar ao nível do mar, procurei as pegadas do atleta, para descobrir o ponto que deveria passar. Mais uma vez, um galho de árvore fez às vezes de cajado para limitar a altura da passagem do rio.
          Com águas gélidas, porém relativamente calmas, atravessei com certa rapidez, não queria ficar ali no meio da barra que tinha cerca de 40 metros de largura, dando bobeira. Estava são e salvo na Praia do Sono que é uma praia infestada de campings e bares, onde na temporada deve ser super badalada, mas que na ocasião só tinha alguns beberrões em um bar local que queriam, insanamente, enfrentar o mar nervoso e me levar para Paraty de barco. Agradeci mas neguei, pois não andei ate aqui pra morrer na praia...
          Cruzei a extensa praia de 1365 metros as 15:00hs e percebi, só então, que a jornada estava no fim; estava com a cabeça muito ocupada no roteiro e no “próximo passo” que demorou para a “ficha cair”.
          Segui encosta acima, agora por uma trilha larga e com corrimão, sendo cruzado por vários estrangeiros e em 40 minutos estou na comunidade de Oratório, local que fica, pasmem, dentro de um enorme condomínio, chamado Laranjeiras, acessado por uma portaria na estrada, contando com heliporto, iates e lanchas, marina, quadras de tênis e piscinas, contrastando com toda a simplicidade que desfrutei durante os 4 dias que passei durante essa travessia.  
            Para comemorar o sucesso, uma cerveja para esperar passar os 15 minutos que me separavam do embarque no Ônibus que liga a comunidade ao centro da cidade. Às 17:00hs estou no centro da cidade, a caminho do Hostel Backpackers para um merecido banho quente.




          Estavam concluídas as duas travessias de Paraty.


Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte 2 -

           Ao atracar, desce um casal de esportistas, vindo do Rio de Janeiro para caminhar, afinal, a partir daqui acaba a travessia do Saco do Mamanguá e inicia a da Ponta da Joatinga.


           Uma boa noite embaixo da árvore gigante e demorei a ajeitar as coisas. Subi os degraus ao lado da pequena casa e atravessei um gramado, deixando à esquerda o caminho que, erroneamente, peguei na tarde anterior que leva a uma pequena cachoeira e outras casas. Como de costume, iniciei a árdua subida, atravessando de um lado ao outro da ponta pela mata. O casal me acompanhou no inicio, mas logo se mandaram na frente, estavam com a carga mais distribuída e um pouco mais descansados. Bem, como já tenho certa experiência, resolvi ir um pouco mais “devagar com o andor”. Em seguida inicia a descida, chegando à Praia Grande do Cajaiba onde eu poderia mergulhar, mas com frio, chuva e mar agitado, de forma alguma seria uma boa idéia. Eis que a fome apertava e resolvi ficar embaixo de uma grande árvore, mas a chuva engrossou e voltei alguns metros para ficar abrigado em um puxadinho onde estava amarrado um ovino. Breve parada, com a companhia do alvo animal, segui em frente, atravessando um rio e chegando a um barzinho, no extremo da praia. La, sentados numa boa, o casal carioca esperava sua refeição e descansavam. Neguei e agradeci o convite para juntar-me a eles... Foi uma boa idéia. 

           A travessia continua e aporto na Praia do Itaoca, onde há uma pequena capela e um quiosque bem ao lado. Passa-se a Praia do Calheus onde há uma escola e um telefone público que funciona através de energia solar que não estava funcionando. Segue-se para a Praia de Ipanema, uma comunidade grande, onde há uma Igreja da Congregação Cristã e uma mini (mini mesmo) mercearia incrustada na rocha.  Continuo o caminho agora para a Praia do Pouso e no caminho, no alto do morro, vejo o cemitério, meio abandonado já ao longe, passei a entrada dele e nem percebi. Algumas casas e estou em frente da Igreja da Praia do Pouso, ao lado de um barzinho. Sento e fico descansando e fazendo uma pequena refeição pra inibir a fome. Aqui a trilha sai ao lado da igreja, passando por trás da escola e segue morro acima por uma trilha a direita. Subindo a trilha, uma parte cansativa que atravessa de um lado ao outro da ponta pela mata. Há um bonito mirante nesse trecho, mas como minha inseparável amiga chuva não me deu trégua, não pude vislumbrar com nitidez essa beleza. A descida é mais fácil e rápida que a subida, mas é um trecho que desgasta.  No final desse trecho, chega-se a um portão, propriedade de um senhor chamado Maneco, simpático e hospitaleiro, que deixa claro a todos que ali não é lugar de bagunça, e sim de paz e tranqüilidade. Faz o trabalho na Praia Martin de Sá que as autoridades ambientais deveriam fazer. O plano era acampar aqui, e confesso que fiquei realmente tentado com o convite do Seu Maneco, não pelos alertas dele de que não chegaria à outra praia com luz ou com o aviso de que não passaria uma cachoeira no caminho, mas sim pela acolhida e simpatia do local e do seu guardião. Porém, como eram 15h45min. resolvi arriscar o trecho que, segundo o morador, faria em 2 horas, ou em 1 hora e meia bem andadas. 
Praia de Itaoca

Ipanema

A super mini mercearia

          Atravessei pequenos riachos e a referida cachoeira com cuidado. Andando depressa, às 17h15min chego na casa de Seu Apricho, cunhado do Seu Maneco. Morador da Praia de Caiçuru das Pedras, é uma pessoa simples e amigável, me mostrou o local onde, depois de acertado o valor, deveria acampar. Um local lindíssimo, de frente para o mar, bem no alto, onde Seu Apricho deve ter gasto alguns consideráveis dias para forrar com areia da praia o camping. Estava iniciando os preparativos do camping, tirei apenas a lona da mochila quando o simpático morador vem ao meu encontro, dizendo que, caso eu desejasse, ele cederia um espaço ao lado de sua casa para eu dormir. Ótimo! Não precisaria gastar tempo e forças na montagem e desmontagem da barraca, sem contar que a noite já estava iniciando. Dormi em sua casa de farinha, feita de pau a pique. Só não ficou perfeito porque seu Apricho havia feito farinha de mandioca no dia anterior, caso tivesse feito naquela tarde, o forno ainda estaria quente e eu poderia secar minhas coisas e ficaria mais aconchegado. Mesmo assim, foi maravilhoso. Boa noite de sono e ainda trouxe uma excelente farinha para Curitiba. Fiquei imaginando como estaria o casal carioca que ficou para trás.
          A trilha sai do lado direito da casa e passei por uma grande pedra toda cheia de buracos arredondados, parecendo que veio do espaço. Entre um rio e outro chego a um trecho perigoso. Trata-se do rio com uma perigosa cachoeira, fui alertado, tanto pelo Seu Maneco quanto pelo Seu Apricho, que não passaria devido às fortes chuvas que encheram os rios. Realmente foi uma hora de tensão e uma certa apreensão me invadiu. Com autocontrole, sem permitir que o medo chegasse perto, pensei na solução com a cabeça fria. O rio bufava e a cachoeira abaixo era realmente assustadora, cair ali era, com certeza, fatal. O local da passada estava intransponível, ficava muito perto da queda e seria sandice pura passar por ali. Subi o rio em alguns metros e peguei um galho que serviu como apoio e delimitador de profundidade. Caso caísse de mal jeito ainda teria chance de me agarrar em alguma pedra. Ponderei, através da experiência que adquiri na Serra Paranaense (uma das melhores escolas para situações de perigo devido as dificuldades enfrentadas nela), que não poderia passar em trecho com água acima da coxa; água na cintura, com aquela força de água, seria ver São Pedro antes do tempo.  Iniciei a travessia por cima de algumas pedras, mas entrar na água seria inevitável. Procurei passar logo acima de algumas pedras, caso caísse elas seriam minha barreira. Ao descer da pedra, uma pequena escorregada faz meu coração bater mais forte; sem problemas, tudo estava sob controle, devagar fui chegando à outra margem. Após a travessia do rio, respirei fundo e segui o caminho, olhando para a temida cachoeira, realmente um perigo com aquele nível d'água. 
          Dez minutos depois estou na Praia da Ponta Negra.  Pegar a trilha para o Saco Bravo (onde uma cachoeira deságua no mar) tinha ficado para uma próxima aventura. Perguntei para alguns moradores sobre o caminho que deveria seguir e me alertaram que não deveria cruzar a ponte à esquerda, mas seguir reto pelo caminho. Mas acontece que andar pelas comunidades é um verdadeiro terror, pois não há indícios de qual “rua” deve-se seguir. Estacionei em uma casa onde o telhado de sua varanda estava caindo; parei, pois a fome apertava e decidi fazer um Sopão, pois estava molhado até os ossos e com frio.  Uma pequena abertura na emenda do cano e tinha água fresca para fazer a refeição. Enquanto esperava o rango ficar pronto, um morador veio falar comigo e saber para onde estava indo. Disse-me que o melhor a fazer era ficar por ali mais um dia e que, caso necessário, tinha mantimentos para mim. Seu argumento era que, na Praia do Sono eu não conseguiria atravessar uma barra (saída do rio no mar), pois o local não tinha ponte e a chuva, com certeza, teria feito subir o nível do rio consideravelmente.

          Nova apreensão, fiquei imaginando como seria essa passagem.  Haveria correnteza? Água acima da cintura? Poderia passar pelas areias da praia em segurança? Lembrei da temida cachoeira que havia passado minutos antes e voltei a sofrer.

Veja a ultima parte   http://www.rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da_5244.html
 
Ir para a 1a. Parte   http://rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da.html

Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte 1 -

O SACO DO MAMANGUA


          O feriado do Corpus Christi já se aproximava e o Plano A tinha ido para o beleléu, pois o número de participantes da travessia do Parque Nacional São Joaquim em Santa Catarina estava lotado. Para que a Justiça fosse feita, fiquei de fora da empreitada para essa linda caminhada da serra catarinense. Aliás, parabéns para o pessoal da Associação dos Montanhistas de Cristo pela iniciativa, pela bela caminhada e por agregar montanhistas dos três estados sulinos. Para mim, fica para a próxima.
          Nos últimos dias que antecediam o feriado, lembrei de alguns relatos que havia lido anos antes, sobre travessias a beira-mar, como a de Superagui; que há anos tenho vontade de realizar. Entre uma pesquisa e outra, relembrei de uma travessia pouquíssimo conhecida, na cidade de Paraty/RJ.  Na verdade, juntei duas travessias: a do Saco do Mamanguá e a da Ponta da Joatinga.
          Após um breve estudo de custos e do local, decidi como opção, pela travessia no Rio. Preparei-me para a árdua tarefa de dirigir a noite pela temida Rodovia Regis Bittencourt, após um longo dia de trabalho. Para executar tal tarefa, optei por maiores períodos de sono ao longo dos 3 dias anteriores ao inicio da viagem e por uma boa garrafa de café ao longo do deslocamento para o “Estado da Guanabara”.
           Últimos preparativos logísticos feitos, parti em direção a capital paulistana às 22h40min. de uma quarta-feira chuvosa, dia 06 de Junho de 2012. Às 5 da matina, já estava na terra de Monteiro Lobato. E após dar uma guinada para a direita, desci a bonita Serra do Mar em direção a Ubatuba. Logo após, estava dirigindo pela famosa rodovia Rio-Santos, conhecida nacionalmente por suas curvas.  Era 07h50min quando estacionei o Land Celta em uma área bem em frente à Rodoviária da cidade. Por pesquisa, o ônibus que me levaria ao próximo destino sairia às 8h30min. mas o horário mudou... Após pegar os utensílios, mexer nas coisas e olhar o horário do coletivo, descobri que o transporte tinha saído minutos antes, as 08h00min. O jeito era esperar mais 1 hora e meia; tempo de um café, e de alguns preparativos feitos com mais esmero.

           Enfim, 09h30min. estava indo em direção a Paraty-Mirim, porém, decidi parar antes do centro da comunidade e parti em direção ao Saco do Mamanguá através de uma íngreme trilha que me levaria a Praia do Currupira. Deixei, portanto, de visitar e conhecer a Igreja de P. Mirim, a Prainha das Pedras, a das Pacas, a da tapera, Praia Grande, Praia da Bica e a Praia do Pontal, o acesso entre essas praias se da, quase que na totalidade, entre canoas e barcos, tirando um pouco o estilo “travessia” propriamente dito, então por esse motivo e com o agravante do horário avançado, deixei de fora essa parte do Saco.
          Após duas horas de caminhada e uma “perdida” que deu em um mangue (que provavelmente chegaria à Estrada que liga o Saco ao Condomínio Laranjeiras) encontrei-me na comunidade de Currupira, onde na praia um senhor desconfiado deu-me a informação de que o barco que estava vindo em nossa direção poderia fazer a minha travessia pelo outro lado do Saco. Esperei o dito barqueiro, mas ele deu meia volta em direção ao fundo do Saco. Voltei para a comunidade e, batendo nas casas, pedi informação de alguém que poderia realizar a travessia. Ao chegar nas casas, verifiquei que seus moradores não fazem a mínima questão de retirar a roupa do varal, mesmo com a chuva que insistia em me seguir. As respostas foram sempre negativas, pois os homens do local tomaram “chá de sumiço”. Retornei para a beira da praia e logo retornava a pequena embarcação. Dessa vez, acenei para o barqueiro que, após alguns minutos, estava na beira da areia com seu bote. Indaguei-o sobre a possibilidade da transposição do Saco e ele me afirmou que não poderia realizá-lo, mas seu companheiro que havia ficado na embarcação poderia fazê-lo e que logo ele estaria na orla da praia. Mais alguns minutos separavam o meu encontro com o barqueiro para fazer o acerto, que iniciou com o pedido de R$30,00 para a chegada a praia do Espinheiro ou R$50,00 para me atravessar ate a Praia do Cruzeiro, onde eu deveria acampar. Achei o preço meio salgado e resolvi pechinchar, ofertando R$20,00 para a travessia ate o Espinheiro, no qual foi aceito prontamente pelo pescador, pedindo apenas que esperasse mais alguns minutos, pois ele havia saído às 7 da manhã e deveria almoçar. Trato firmado, era apenas questão de esperar.
          Fiquei a espera no pátio de uma singela escola, vendo meu objetivo maior do dia, o cume do Pão de Açúcar, que queria subir naquela tarde, ser fechado por densas nuvens, deixando a trilha perigosa e lisa, portanto, abortado por precaução.
Pico Pão de Açucar, minutos ates das nuvens cobri-lo
Deixando a Praia do Currupira
          Eis que por volta das 13h30min, Gilmar retorna de sua casa para cumprir o combinado e em menos de 20 minutos já havia deixado para trás a Praia do Currupira e a Praia do Bananal ao lado direito, atracando na Praia do Espinheiro. 
           Logo mais vejo um barracão branco, algumas casas e uma igreja Assembléia de Deus, seguida do Posto de saúde e Associação de Moradores do Mamanguá; havia chegado na Praia do Cruzeiro, uma comunidade grande e percebi, pelo tempo de deslocamento entre a Praia do Espinheiro e do Cruzeiro, que pagar a diferença era rasgar dinheiro, tal a proximidade entre as duas comunidades. Passei alguns quiosques e uma pequena ponte. Ao pedir informação em uma das casas, fui abordado por uma simpática senhora, que incisivamente alertou-me de que não chegaria na próxima praia, e que deveria ficar em um local que ela dispunha. Pedi informações sobre um camping de um senhor chamado Orlando. A dita senhora me afirmou que era ali... Entendi então o porquê da insistência de ficar em sua propriedade...
           Cheguei ao local que tinha me causado curiosidade nos relatos que li. Trata-se das “Ruínas da Mansão do Coreano”. Uma verdadeira obra grandiosa aos pedaços, que foi demolida pelo IBAMA por estar em área irregular e que não poderia ser construída. Tal construção destoa totalmente dos ares simples e humildes que rodeiam a comunidade. Agora em trapos, percebe-se que, quando habitável, deveria ser uma construção colossal que abrigava uma série de atividades além-moradia. Aqui, senti certa dificuldade em seguir em frente, pois não sabia bem ao certo que rumo seguir. A tarefa ficou ainda mais difícil por conta de um “amigo” canino que tentava me ajudar...  Em seguida, após vários minutos, resolvi retornar um pouco e subir alguns degraus ao lado de uma casa paupérrima.  Nessa direção, a subida reta é em direção ao cume ao Pão de Açúcar, que foi abortado, eu segui a esquerda. Mesmo com dificuldade para achar a trilha na parte da ruína da mansão, ainda estava com tempo e resolvi seguir adiante, abandonando a idéia de acampar na comunidade do Cruzeiro. 
           Seguindo a frente, chega-se em uma mansão onde foi gravado um filme da série Crepúsculo, como a região da casa é grande, também perdi alguns minutos procurando a provável continuação da vereda e ali não havia nenhum vampiro teen para me socorrer. Pois bem, a mesma continua atravessando o gramado que sai bem atrás da casa principal. Passa algumas pontes e logo aportava na comunidade da Praia do Engenho. A dificuldade do caminho se dá, por incrível que pareça, quando chega-se nas comunidades. A infinidade de caminhos, trilhas e sendas é tão grande que fica difícil se orientar e saber qual caminho se deve seguir e, é lógico que mais uma vez, eu fiquei “rodando” pela vila a procura da continuação. Ficaria por muito tempo, não fosse um morador simpático que me ajudou indo mostrar-me a trilha em direção da Praia e a continuação do caminho que seguiria no outro dia. Em um entroncamento em cruz deve-se descer a esquerda para chegar à praia, ou subir para a direita para continuar o caminho. Como já se fazia tarde, fiquei na pequena e acolhedora Praia do Engenho que, providencialmente, há água doce encanada e um chuveiro de águas gélidas. Montei meu apartamento em um gramado, bem embaixo de uma grande árvore, um sombreiro avolumado que jazia nas areias amareladas. Não sem antes passar um temor: ao terminar de armar acampamento, vejo vindo em direção da praia uma embarcação com uma lanterna. Fiquei imaginando que algum “dono da praia” ficou sabendo da minha pretensão de passar a noite por ali e veio me enxotar do local. Com uma pequena distancia comecei a ouvir risadas e conversas amenas vindo do barco; fiquei mais aliviado. Ao atracar, desce um casal de esportistas, vindo do Rio de Janeiro para caminhar, afinal, a partir daqui acaba a travessia do Saco do Mamanguá e inicia a da Ponta da Joatinga.
Aguas limpidas da Praia do Engenho

Praia do Engenho


Local do 1o. Acampamento
          

Veja a continuação...http://rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da_11.html 

quarta-feira, 28 de março de 2012

Tupipia... -- Uma montanha para poucos –

         Quando comecei minha vida montanhistica, no ano de 2008, subindo o Pico Parana, olhei a extensão sul do cume e senti-me atraido. Chamou-me a atenção aquele pontão, unido ao conjunto por uma curta sela. Com algumas pesquisas, descobri que sua conquista se deu por Rudolf Stamm (Marumbi), após 4 anos da conquista do seu irmão mais velho: o majestoso Pico Paraná. Com uma caminhada de 2 horas, abrindo o mato, em 1945 chega o primeiro montanhista para alcançar seu ápice.
          Com mais um convite dos meus amigos Alex, Jamil e Josafat (Cachorrões da Serra), vejo-me na tentativa da conquista de um dos meus sonhos: chegar onde Marumbi havia pisado em 45.
          Certo de que não era missão fácil, pois havia logrado falha de atingir o cume um mês antes, estávamos na incumbência de devolver o livro de cume que jazia em sua caixa metálica, molhado e com poucas assinaturas, que na semana anterior havia sido resgatada por Jamil e Josafat. Ao que me foi relatado, a caixa de cume havia sido instalada em 1997, a ultima assinatura era de 2007: a terceira!
          Na semana que antecedia os dias 24 e 25 de Março de 2012, acertamos os detalhes para a investida. Alex levaria sua amada, Talita, para o Pico Paraná, em companhia de Josafat e Low. Eu os acompanharia ate o cruzo do Caratuva, de onde seguiria rumo ao cume desse pico (1860m.), descendo em seguida pela trilha da conquista do PP ate o Abrigo 1, me encontrando novamente com meus confrades, seguindo encosta acima para o Abrigo 2 e, no outro dia, rumando para o cume do Pico Paraná (1877,33m.) e Tupipia (1727m.) Jamil, por sua vez, ascenderia na manhã de domingo, de ataque para se livrar da incumbência de deitar o livro em seu leito de direito.
          Chegamos à Fazenda Pico Paraná as 09:10hs do dia 24. Julgando meu percurso um pouco mais estafante, pedi licença para meus camaradas para que eu pudesse seguir antes deles para meu caminho. As 9:40 hs, parti de cargueira para o alto do Morro do Getulio (Piolho), onde julgo ser o pedaço que “quebra a perna” do montanhista, devido ao desgaste empreendido para ultrapassar essa barreira natural.
          Ao chegar no cruzo do Caratuva, larguei minha cargueira e demorei-me num descanso merecido, a fim de não me estafar sem necessidade. Durante 20 minutos de parada, pude observar os beija-flores em suas danças, que por vezes são brigas ferrenhas, dado o gênio territorialista desse pássaro. Quando alcancei o primeiro mirante da trilha, observei o ultimo integrante da fila, Low, descendo para o cruzo do Caratuva, contatei-os por radio e desejei-lhes boa caminhada, uma vez que seguiriam pela direita na bifurcação e não teríamos muitas chances de contato.  Parada efêmera para conseguir o recurso hídrico, tão necessário, pontualmente as 13:00 hs, cheguei ao cume do Caratuva, e percebi que o conjunto Ibiteruçu havia acabado de ser fechado pelas nuvens vindas do litoral. Estagnei-me 20 minutos no cume, e após tentativa de contato com meus amigos, uma voz ressoou pelo radio, identificando-se como Álvaro Vitto, um montanhista de só conhecia virtualmente. Com promessas de nos conhecermos em ocasião vindoura, provavelmente no dia posterior, havia comentado que estava rumando para o Tupipia, e fiquei acompanhando, via radio, de sua investida, que não logrou êxito, devido ao mal tempo e a pouca informação que ele detinha.
          Com 1:20 hs de descida, cheguei ao ponto marcado de reencontro, o Abrigo 1, fiquei cerca de 40 minutos na espera dos companheiros. Breve descanso, iniciamos a subida para o Abrigo 2, não antes que um temeravel chuvisco, prometendo indesejável chuva, nos assaltasse pouco antes dos grampos.
          Sob chuva mais grossa, montamos acampamento, e durante a noite, pudemos vislumbrar a nova modalidade de montanhismo aquático, pois Alex obrigou-se a mudar sua barraca de posição após alagamento.
          Após alvorada, Jamil chega as 9:30 hs, após 2:50 hs de percurso da Fazenda ate o Abrigo 2. Acampamento desmontado, despedi-me de meus amigos que foram desmotivados pela chuva e pelo mal tempo, e retornariam para Curitiba. Desafio aceito, Jamil e eu, as 11:40 hs saímos para o cume do PP, fazendo breve parada para o almoço. Digno de nota, são duas situações: a primeira é o fato de “achados e perdidos”, achamos caídos na trilha, alem do habitual lixo, um canivete, uma blusa de lã, um boné, uma lanterna e também uma esteira de praia deixada intencionalmente dentro da casa de Pedra; esses objetos foram devidamente devolvidos aos seus proprietários. Outro fato interessante é que, meu leitor atencioso já deve ter percebido e deve notar nas linhas subseqüentes, são os horários fechados, fiquei intrigado como os horários sempre apresentavam o numeral 40.
          Chegado ao cume do PP, saímos as 12:40 hs e após 1 hora , as 13:40 hs alcançamos o ponto alto da atividade.
          A trilha que sai do lugar conhecido como banheiro do PP, inicia-se com um salto de um barranco, seguindo por uma mata fechada que se regozija em nos arranhar o corpo, deixando ferido, principalmente, os braços e o pescoço.  Metros a frente começa o martírio, uma descida íngreme e lisa nos recebe ao lado dos paredões do lado sul do Pico Paraná. Não se sabe o que é pior, a descida ou pensar na subida de retorno por aquelas paragens. Apenas para critério de comparação, essa trilha, devida sua descida abrupta, deixa a descida Tucum-Cerro Verde parecer brincadeira de criança. Uma quiçaça formada por caratuvas, vegetação alto - montana e vegetação nebular, seguido do alcantilado ladear dos paredões, forjam a vereda para alcançar a solitária caixa de cume. Ali, nos 1727 metros, encontramos oscilando tranquilamente com o soprar do vento, sobre duas caratuvas, um ofídio de porte pequeno e amarronzado, sem nenhuma preocupação, esquentando seu arrefecido corpo.
          Após 1 hora no cume, contemplando as paredes que insistem em nos tirar o fôlego, saímos em direção, novamente, ao cume do PP, as 14:40 hs chegando ao referido local as 15:40 hs. Livro assinado, hora de voltar para a marcha. Com passos diminutos, Jamil foi contendo seu ritmo, para amenizar a desvantagem entre ele, de ataque, e mim, de cargueira. Com o cansaço batendo, em condições atípicas, com peso e já com a falta de claridade, em um momento inesperado, errei o passo e rolei barranco abaixo, uns 2 a 3 metros, por sorte, meu anjo da guarda estava a me amparar e não sofri nada alem do susto.
          Como era de se esperar, chegamos a Fazenda Pico Paraná as 21:40 hs, onde encontramos uma pessoa que, segundo nosso julgamento, estava mais cansado do que nós; uma vez que, mesmo com chamados e buzinas, continuou com seu acalentador sono no banco que figura ao lado da casa de apoio. Sem maiores problemas, chegamos em Curitiba satisfeitos, recebendo as felicitações posteriores de amigos pelo feito.
          Assim foi a subida ao Tupipia, a montanha para poucos. E se você já foi la, meu amigo; parabéns! Isso é raro...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Biblioteca Comunitaria Sitio Vanessa

          
          Ha um certo tempo que venho faltando com meus amigos a respeito de um trabalho que merece apenas elogios. Trata-se de uma Biblioteca Comunitária chamada "Sitio Vanessa", que fica no final da Estrada do Anhaia, em Morretes. Próxima a entrada do Parque Estadual do Pau-Oco, via de acesso ao Salto Fortuna.
           Em uma bonita parceria com amigos e com uma ideia excelente na cabeça, três pessoas encabeçaram esse projeto que hoje já esta atingindo uma visibilidade nacional, saindo dos limites do município de Morretes e de seu respectivo estado. Os responsáveis por ele são Juliano Rocha, sua esposa Daniele Carneiro e meu amigo pessoal Edemilson Pereira, o dono do Sitio Vanessa , onde fica  a sede oficial da Biblioteca. Edemilson abraçou a ideia com toda a força quando Juliano veio ate ele com a proposta de um espaço onde os moradores locais e os visitantes pudessem ter acesso a cultura e ao entretenimento de forma totalmente gratuita, colaborativa e voluntaria. 
           Assim foi criada a Biblioteca do Sitio. Entre uma doação e outra, contando com a voluntariedade para a seleção, catalogo e armazenamento desses livros, a Biblioteca cresceu e, percebemos que o espaço já esta um tanto diminuto. Seria um grande problema se não fosse uma solução simples, explico-me: Próximo dali a apenas alguns singelos quilômetros, na localidade de Mundo Novo encontra-se uma Escola Estadual que esta de portas fechadas! Isso mesmo: A Escola Rural de Mundo Novo não esta ativa com sua condição pregressa: o ensino. Porem, podemos dar-lhe ainda a condição social tão necessitada na região. Falta-nos que um olhar atento de algum representante do povo, de uma "forcinha", fazendo o intermédio da população e da Biblioteca com os responsáveis governamentais da área educacional para que possa ser cedido um espaço mais amplo para a utilização da população.  Ora, admitamos que isso não é nada difícil, pois uma sala, que não esta sendo ocupada, serviria providencialmente para a realocação desse  precioso material que é utilizado por pessoas da mais variada idade, mas principalmente pelas crianças e infanto-juvenis.
          Morretes esta saindo na frente por essa ideia, cabe a nós ajudar. E caso meu caro leitor me pergunte "como?" adianto -me na resposta : Ha varias formas de ajudar a essa ideia pegar, vamos a elas:
1- Acessar e divulgar nas redes sociais o blog da Biblioteca do Sitio http://bibliotecadositio.blogspot.com/ . 
2- Divulgue esse texto entre seus conhecidos... Não custa nada!
3- Faça uma visitinha a Biblioteca. Visite, assine o livro de visita, pegue um livro, revista ou gibi, leia, fique com ele e cuide-o pelo tempo que for necessário, devolvendo-o quando for possível.
4- Conte para seus amigos, o boca a boca ainda é uma das melhores propagandas!
5- Doe! Mas não se esqueça: Antes de doar algo se pergunte "Eu gostaria de receber isso nesse estado?".
 Com esse simples passos você vai estar ajudando.
Conto com a colaboração de todos vocês!

Fotos: Papael e Juliano Rocha

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Na Sombra do Ibiteruçu

"Ou seja: Achamos que a conquista daquele local era dos "Cachorrões da Serra", mas estávamos errados: ALGUEM JA PISARA ALI EM IDOS PASSADOS..."

          Dia normal se não fosse pelo inesperado convite de um dos integrantes do neo-grupo montanhistico “Cachorrões da Serra". Esse grupo consiste numa derivação do CPM (Clube Paranaense de Montanhismo), onde alguns de seus membros, por terem mais afinidade, andam com mais freqüência nas serranias. Esse mesmo grupo, algum tempo atrás, ficou conhecido por abrirem uma bonita e exigente trilha no lado leste do Ferraria e , ao que tudo indica, continuam gostando da porção leste da Serra do Mar paranaense.
     Com algum segredo, meu contato me deu pequenas dicas de onde iríamos abrir uma nova vertente para um cume desconhecido. Não foi difícil juntar as peças e me localizar espacialmente de onde deveríamos galgar serra acima.
     Semanas antes, esse grupo já havia criado uma trilha nova, partindo de Antonina, na Fazenda Lírio do Vale, para um cume ate então nunca galgado. Jamil dos Santos e Juliano Volpini foram os precursores da trilha, subindo através de uma fenda na rocha, alcançando na primeira investida um rio na cota 740.  Em uma segunda ascensão, conseguem chegar ao primeiro cume na qual, sem referências anteriores, a batizam de Jacutinga, nessa ocasião estão presentes Josafat Kaczuk, Alex Pacheco, Jamil dos Santos e Alexsander Machado, lembrando ainda que existe mais um integrante neste grupo : Diego Leineker que, justiça seja feita, foi um dos conquistadores da Face Leste do Ferraria.  Portanto, a idéia das próximas investidas era chegar ao cume, descer ao vale e apos uma abrupta curva, seguir para um outro cume, também, hipoteticamente, nunca pisado por montanhistas. Esse era o plano que me convidaram a participar.
     Chegamos na fazenda por volta das 22:00hs de sexta (06/01/2012) e apos um delicioso jantar, descansamos os corpos para no outro dia sairmos cedo.
     As 08:00 hs saímos morro acima para, em um ponto estratégico, guinarmos para a esquerda e sempre o fazendo, afinal, circularíamos a referida montanha, para achar uma vertente mais tranqüila e não tão íngreme para atingir o cume já conquistado por esses cavalheiros. O que encontrei em minha frente foram três cabeças pensantes, pois ao ver a trilha que seguia em minha frente, aberta e escolhida como a vereda mais simples para alcançar o píncaro, só posso elogiá-los quanto à escolha e abertura do caminho; sem poder esquecer também, que os desbravadores serranos não se esqueceram de dar uma vasculhada para achar água, peça fundamental para a boa permanência nesse tipo de local.  Outra grande sacada do grupo foi quando acharam uma fenda para continuar subindo, caso não tivessem um certo "talento", a empreitada estaria fadada ao fracasso diante desse obstáculo.
     Estaria tudo em ordem, afinal saímos com um ótimo tempo da base, se não fosse a Serra do mar em tempo de verão. As 12:00 mais ou menos, o tempo começou a virar e o que se viu foi uma forte chuva gelada com raios que se faziam ouvir não muito longe dali. A idéia era chegar ao primeiro cume e descer abrindo a picada ate o vale, armando acampamento próximo de um córrego ainda desconhecido, mas como chegamos ao cume encharcados, embaixo de muita chuva e raios, ponderamos que descer para o desconhecido não seria uma boa idéia, ficar no cume seria pior ainda, pois nos tornaríamos um ótimo para-raio. Acertamos que deveríamos voltar um pouco antes do cume, em local mais baixo, armar uma tenda provisória e torcer para  a chuva dar uma  trégua. Dessa vez, a natureza venceu.
     Mesmo com torcida, a chuva continuou a cair, portanto, resolvemos que ali seria um bom local para acampamento definitivo, demarcamos a área e esticamos sobre nossas cabeças toldos, trabalhar seco e quente é bem mais interessante. Como o tempo não ajudou, ficamos papeando e, obvio, a tiração de sarro correu solto, principalmente dos ausentes; alias, senso de humor é o que não falta a esses senhores.
      Gostaria de discorrer sobre os participantes desse grupo: Percebo que cada um deles tem um certo "papel", mesmo que sem intenção.
Jamil dos Santos, já na casa dos 40, parece um brutamonte, com cara de enfezado, mas ri como ninguém. Responsável, exerce uma certa liderança no grupo e  acaba por organizá-lo para que o mesmo funcione de forma auto-sustentável.
Josafat Kaczuk, 37, (me perdoem a expressão) é a mãezona do grupo, aplicado por fazer o melhor de si pelo outro, está sempre preocupado com o bem-estar dos demais, colocando o conforto do outro acima do seu. Religioso, respira a família e a natureza num pe de igualdade. No grupo, faz às vezes do equilíbrio, lembrando seus consortes sobre a prudência que deve envolver esse tipo de atividade.  
Alexsander Machado, 32, é uma figura. Espontâneo e carismático, faz as vezes do bom amigo. Exerce no grupo duas funções importantes: a de cozinheiro e a de timoneiro, traçando e seguindo as rotas em meio a selva. Cozinheiro de mão cheia, aprecia criar novos sabores e aromas para que seus amigos degustem e tirem a barriga da miséria de uma forma, como posso dizem, "bon vivant". Inteligente, busca informações paralelas dos lugares aonde vai, para obter uma visão mais robusta, holística e completa de suas viagens.



      Lembrando que, de forma alguma no grupo esses "cargos" foram definidos conscientemente, mas se tornam visíveis pelo próprio perfil de cada integrante, onde cada um se sobressai em determinada atividade correlata.
     Bem, como a chuva não parava de cair, ficamos enchendo o bucho e conversando, dando gargalhadas e etc...
     Domingo de manhã, mais nada a fazer, hora de levantar acampamento e ir embora. Logo apos um demorado café, guardamos as coisas e rumamos morro abaixo em direção ao litoral. Qual nossa surpresa, ao verificar que, uns 10 metros de onde acampamos, surge ao lado da trilha um cano de ferro que desce a encosta no morro. Ou seja: Achamos que a conquista daquele local era dos "Cachorrões da Serra", mas estávamos errados: ALGUEM JA PISARA ALI EM IDOS PASSADOS.


     Um cano, entre 1’ e 1 ½’ polegadas, descia o morro em direção, suponho eu, da válvula borboleta da UHPS. Em sua ponta, três hastes curvadas em forma de alça de xícara jaziam enroladas com fio de luz encapado vermelho, já um tanto desbotado. Fica o mistério, nem tanto para onde seguia morro abaixo, mas de onde vinha... Qual era sua finalidade? Água? De onde se estávamos no cume?


     A descida se fez rápida, e optamos por um desvio ate a cachoeira do Saci, para tomarmos um banho antes da chegada na Fazenda Lírio do Vale.
      Fui tratado muito bem durante minha participação especial nesse grupo  e fiquei lisonjeado pelo convite e pela confiança a mim depositada por eles, afinal, não terminaram a trilha, muito menos o projeto que, diga-se de passagem, é ambicioso mas totalmente viável.
      Gostaria de ter meu nome gravado no final dessa empreitada, como um de seus colaboradores, mas isso depende de um novo convite da Cachorrada... Quem sabe, não é mesmo? “Partiu (- via facebook - proximo a Antonina)” Auuuuuuuuuuu