quarta-feira, 11 de julho de 2012

Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte Final -

            Nova apreensão, fiquei imaginando como seria essa passagem.  Haveria correnteza? Água acima da cintura? Poderia passar pelas areias da praia em segurança? Lembrei da temida cachoeira que havia passado minutos antes e voltei a sofrer. 

          Comecei a subir a ladeira e logo vi a praia que atingiria em poucos minutos. Fiquei ressabiado e retornei, pois o morador disse-me que chegaria na praia do Sono em 40 minutos. Ponderei que estava no caminho errado, dado a proximidade da praia. Pedi auxilio em uma casa, onde uma criança de uns 5 anos me recebeu; não entendi direito e não acreditei muito em suas palavras. Procura daqui e procura dali retorno e passo novamente pela casa na qual tinha feito a refeição. Bato em uma nova casa e logo sou recebido e informado que estava no caminho certo. Como estava fora da temporada, as casas estavam majoritariamente fechadas e isso se enaltecia por decorrência da chuva, pedir ajuda e informação era atividade que exigia tempo e uma seqüência de “vai-e vens” no caminho. Lembrava do morador me falando da Praia do Sono, mas esqueci completamente que ele havia me falado que em 10 minutos estaria na Praia das Galhetas, uma praia excêntrica, onde não há areia e sim uma imensidão de pedras pelas quais galguei. Ao chegar em uma ponte pênsil, vi temeroso o rio que corria furiosamente em direção ao mar e a violência com que se encontravam. Com cuidado, ultrapassei a ponte, rezando para que ele fosse o rio que o morador havia me falado, ou que, por um milagre, ele não tenha tido noticias da construção de uma ponte. Pensamentos para acalentar a mente... Manter os nervos em ordem, seguir adiante. O temor continuava!
         Passei pela Praia dos Antigos e vi que havia dois pares de pegadas que vinham em direção contraria da que eu estava indo; um descalço, provavelmente de um morador, e outra que parecia ser de uma bota. Ora, respirei mais aliviado, afinal, se as pegadas vinham em minha direção, vindo da Praia do Sono, então eles passaram pela barra. Se eles passaram eu passo também. Fico surpreso com a proximidade com que a Mata Atlântica encosta a pouquíssimos metros do mar. Sempre vi o mar, um trecho de areia, a vegetação de restinga, uma longa faixa de vegetação mais baixa e, depois de quilômetros, o inicio da Mata Ombrofila Densa. Aqui a separação é de apenas alguns metros.
          Depois de cruzar a Praia dos Antigos, como de praxe, iniciei a subida e cruzo com um casal de caiçaras, perguntei se haviam passado a barra e o homem afirmou que sim, mas que o nível já estava alto, água pela cintura. E que, se meu plano era atravessar, deveria apressar o passo, pois em poucos minutos não haveria mais possibilidades de cruzar essa barreira natural. Logo em seguida, alcança-me um esportista, corredor em treino; logo percebi seu camelback e seu calçado da renomada “Salomon”, com certeza não se tratava de um morador local. Perguntei se havia passado pela barra e ele afirmou que havia passado por volta das 10:00 hs; comentei que poderia haver problemas na travessia... O corredor pergunta-me o motivo e eu respondi o que o morador havia me falado: água na cintura. Situação meio engraçada, pois o corredor fez uma interpretação errada dizendo-me: Algum problema? Água por água... (eu estava inteiramente molhado). Não quis me referir ao ato de me molhar, mas ainda não sabia como era o rio e pensei que água acima da cintura a força da água poderia ser grande... Enfim, no mirante da Praia do Sono o corredor seguiu seu treino e desci vagarosamente a encosta íngreme e lisa com minha pesada cargueira. Ao chegar ao nível do mar, procurei as pegadas do atleta, para descobrir o ponto que deveria passar. Mais uma vez, um galho de árvore fez às vezes de cajado para limitar a altura da passagem do rio.
          Com águas gélidas, porém relativamente calmas, atravessei com certa rapidez, não queria ficar ali no meio da barra que tinha cerca de 40 metros de largura, dando bobeira. Estava são e salvo na Praia do Sono que é uma praia infestada de campings e bares, onde na temporada deve ser super badalada, mas que na ocasião só tinha alguns beberrões em um bar local que queriam, insanamente, enfrentar o mar nervoso e me levar para Paraty de barco. Agradeci mas neguei, pois não andei ate aqui pra morrer na praia...
          Cruzei a extensa praia de 1365 metros as 15:00hs e percebi, só então, que a jornada estava no fim; estava com a cabeça muito ocupada no roteiro e no “próximo passo” que demorou para a “ficha cair”.
          Segui encosta acima, agora por uma trilha larga e com corrimão, sendo cruzado por vários estrangeiros e em 40 minutos estou na comunidade de Oratório, local que fica, pasmem, dentro de um enorme condomínio, chamado Laranjeiras, acessado por uma portaria na estrada, contando com heliporto, iates e lanchas, marina, quadras de tênis e piscinas, contrastando com toda a simplicidade que desfrutei durante os 4 dias que passei durante essa travessia.  
            Para comemorar o sucesso, uma cerveja para esperar passar os 15 minutos que me separavam do embarque no Ônibus que liga a comunidade ao centro da cidade. Às 17:00hs estou no centro da cidade, a caminho do Hostel Backpackers para um merecido banho quente.




          Estavam concluídas as duas travessias de Paraty.


Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte 2 -

           Ao atracar, desce um casal de esportistas, vindo do Rio de Janeiro para caminhar, afinal, a partir daqui acaba a travessia do Saco do Mamanguá e inicia a da Ponta da Joatinga.


           Uma boa noite embaixo da árvore gigante e demorei a ajeitar as coisas. Subi os degraus ao lado da pequena casa e atravessei um gramado, deixando à esquerda o caminho que, erroneamente, peguei na tarde anterior que leva a uma pequena cachoeira e outras casas. Como de costume, iniciei a árdua subida, atravessando de um lado ao outro da ponta pela mata. O casal me acompanhou no inicio, mas logo se mandaram na frente, estavam com a carga mais distribuída e um pouco mais descansados. Bem, como já tenho certa experiência, resolvi ir um pouco mais “devagar com o andor”. Em seguida inicia a descida, chegando à Praia Grande do Cajaiba onde eu poderia mergulhar, mas com frio, chuva e mar agitado, de forma alguma seria uma boa idéia. Eis que a fome apertava e resolvi ficar embaixo de uma grande árvore, mas a chuva engrossou e voltei alguns metros para ficar abrigado em um puxadinho onde estava amarrado um ovino. Breve parada, com a companhia do alvo animal, segui em frente, atravessando um rio e chegando a um barzinho, no extremo da praia. La, sentados numa boa, o casal carioca esperava sua refeição e descansavam. Neguei e agradeci o convite para juntar-me a eles... Foi uma boa idéia. 

           A travessia continua e aporto na Praia do Itaoca, onde há uma pequena capela e um quiosque bem ao lado. Passa-se a Praia do Calheus onde há uma escola e um telefone público que funciona através de energia solar que não estava funcionando. Segue-se para a Praia de Ipanema, uma comunidade grande, onde há uma Igreja da Congregação Cristã e uma mini (mini mesmo) mercearia incrustada na rocha.  Continuo o caminho agora para a Praia do Pouso e no caminho, no alto do morro, vejo o cemitério, meio abandonado já ao longe, passei a entrada dele e nem percebi. Algumas casas e estou em frente da Igreja da Praia do Pouso, ao lado de um barzinho. Sento e fico descansando e fazendo uma pequena refeição pra inibir a fome. Aqui a trilha sai ao lado da igreja, passando por trás da escola e segue morro acima por uma trilha a direita. Subindo a trilha, uma parte cansativa que atravessa de um lado ao outro da ponta pela mata. Há um bonito mirante nesse trecho, mas como minha inseparável amiga chuva não me deu trégua, não pude vislumbrar com nitidez essa beleza. A descida é mais fácil e rápida que a subida, mas é um trecho que desgasta.  No final desse trecho, chega-se a um portão, propriedade de um senhor chamado Maneco, simpático e hospitaleiro, que deixa claro a todos que ali não é lugar de bagunça, e sim de paz e tranqüilidade. Faz o trabalho na Praia Martin de Sá que as autoridades ambientais deveriam fazer. O plano era acampar aqui, e confesso que fiquei realmente tentado com o convite do Seu Maneco, não pelos alertas dele de que não chegaria à outra praia com luz ou com o aviso de que não passaria uma cachoeira no caminho, mas sim pela acolhida e simpatia do local e do seu guardião. Porém, como eram 15h45min. resolvi arriscar o trecho que, segundo o morador, faria em 2 horas, ou em 1 hora e meia bem andadas. 
Praia de Itaoca

Ipanema

A super mini mercearia

          Atravessei pequenos riachos e a referida cachoeira com cuidado. Andando depressa, às 17h15min chego na casa de Seu Apricho, cunhado do Seu Maneco. Morador da Praia de Caiçuru das Pedras, é uma pessoa simples e amigável, me mostrou o local onde, depois de acertado o valor, deveria acampar. Um local lindíssimo, de frente para o mar, bem no alto, onde Seu Apricho deve ter gasto alguns consideráveis dias para forrar com areia da praia o camping. Estava iniciando os preparativos do camping, tirei apenas a lona da mochila quando o simpático morador vem ao meu encontro, dizendo que, caso eu desejasse, ele cederia um espaço ao lado de sua casa para eu dormir. Ótimo! Não precisaria gastar tempo e forças na montagem e desmontagem da barraca, sem contar que a noite já estava iniciando. Dormi em sua casa de farinha, feita de pau a pique. Só não ficou perfeito porque seu Apricho havia feito farinha de mandioca no dia anterior, caso tivesse feito naquela tarde, o forno ainda estaria quente e eu poderia secar minhas coisas e ficaria mais aconchegado. Mesmo assim, foi maravilhoso. Boa noite de sono e ainda trouxe uma excelente farinha para Curitiba. Fiquei imaginando como estaria o casal carioca que ficou para trás.
          A trilha sai do lado direito da casa e passei por uma grande pedra toda cheia de buracos arredondados, parecendo que veio do espaço. Entre um rio e outro chego a um trecho perigoso. Trata-se do rio com uma perigosa cachoeira, fui alertado, tanto pelo Seu Maneco quanto pelo Seu Apricho, que não passaria devido às fortes chuvas que encheram os rios. Realmente foi uma hora de tensão e uma certa apreensão me invadiu. Com autocontrole, sem permitir que o medo chegasse perto, pensei na solução com a cabeça fria. O rio bufava e a cachoeira abaixo era realmente assustadora, cair ali era, com certeza, fatal. O local da passada estava intransponível, ficava muito perto da queda e seria sandice pura passar por ali. Subi o rio em alguns metros e peguei um galho que serviu como apoio e delimitador de profundidade. Caso caísse de mal jeito ainda teria chance de me agarrar em alguma pedra. Ponderei, através da experiência que adquiri na Serra Paranaense (uma das melhores escolas para situações de perigo devido as dificuldades enfrentadas nela), que não poderia passar em trecho com água acima da coxa; água na cintura, com aquela força de água, seria ver São Pedro antes do tempo.  Iniciei a travessia por cima de algumas pedras, mas entrar na água seria inevitável. Procurei passar logo acima de algumas pedras, caso caísse elas seriam minha barreira. Ao descer da pedra, uma pequena escorregada faz meu coração bater mais forte; sem problemas, tudo estava sob controle, devagar fui chegando à outra margem. Após a travessia do rio, respirei fundo e segui o caminho, olhando para a temida cachoeira, realmente um perigo com aquele nível d'água. 
          Dez minutos depois estou na Praia da Ponta Negra.  Pegar a trilha para o Saco Bravo (onde uma cachoeira deságua no mar) tinha ficado para uma próxima aventura. Perguntei para alguns moradores sobre o caminho que deveria seguir e me alertaram que não deveria cruzar a ponte à esquerda, mas seguir reto pelo caminho. Mas acontece que andar pelas comunidades é um verdadeiro terror, pois não há indícios de qual “rua” deve-se seguir. Estacionei em uma casa onde o telhado de sua varanda estava caindo; parei, pois a fome apertava e decidi fazer um Sopão, pois estava molhado até os ossos e com frio.  Uma pequena abertura na emenda do cano e tinha água fresca para fazer a refeição. Enquanto esperava o rango ficar pronto, um morador veio falar comigo e saber para onde estava indo. Disse-me que o melhor a fazer era ficar por ali mais um dia e que, caso necessário, tinha mantimentos para mim. Seu argumento era que, na Praia do Sono eu não conseguiria atravessar uma barra (saída do rio no mar), pois o local não tinha ponte e a chuva, com certeza, teria feito subir o nível do rio consideravelmente.

          Nova apreensão, fiquei imaginando como seria essa passagem.  Haveria correnteza? Água acima da cintura? Poderia passar pelas areias da praia em segurança? Lembrei da temida cachoeira que havia passado minutos antes e voltei a sofrer.

Veja a ultima parte   http://www.rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da_5244.html
 
Ir para a 1a. Parte   http://rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da.html

Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte 1 -

O SACO DO MAMANGUA


          O feriado do Corpus Christi já se aproximava e o Plano A tinha ido para o beleléu, pois o número de participantes da travessia do Parque Nacional São Joaquim em Santa Catarina estava lotado. Para que a Justiça fosse feita, fiquei de fora da empreitada para essa linda caminhada da serra catarinense. Aliás, parabéns para o pessoal da Associação dos Montanhistas de Cristo pela iniciativa, pela bela caminhada e por agregar montanhistas dos três estados sulinos. Para mim, fica para a próxima.
          Nos últimos dias que antecediam o feriado, lembrei de alguns relatos que havia lido anos antes, sobre travessias a beira-mar, como a de Superagui; que há anos tenho vontade de realizar. Entre uma pesquisa e outra, relembrei de uma travessia pouquíssimo conhecida, na cidade de Paraty/RJ.  Na verdade, juntei duas travessias: a do Saco do Mamanguá e a da Ponta da Joatinga.
          Após um breve estudo de custos e do local, decidi como opção, pela travessia no Rio. Preparei-me para a árdua tarefa de dirigir a noite pela temida Rodovia Regis Bittencourt, após um longo dia de trabalho. Para executar tal tarefa, optei por maiores períodos de sono ao longo dos 3 dias anteriores ao inicio da viagem e por uma boa garrafa de café ao longo do deslocamento para o “Estado da Guanabara”.
           Últimos preparativos logísticos feitos, parti em direção a capital paulistana às 22h40min. de uma quarta-feira chuvosa, dia 06 de Junho de 2012. Às 5 da matina, já estava na terra de Monteiro Lobato. E após dar uma guinada para a direita, desci a bonita Serra do Mar em direção a Ubatuba. Logo após, estava dirigindo pela famosa rodovia Rio-Santos, conhecida nacionalmente por suas curvas.  Era 07h50min quando estacionei o Land Celta em uma área bem em frente à Rodoviária da cidade. Por pesquisa, o ônibus que me levaria ao próximo destino sairia às 8h30min. mas o horário mudou... Após pegar os utensílios, mexer nas coisas e olhar o horário do coletivo, descobri que o transporte tinha saído minutos antes, as 08h00min. O jeito era esperar mais 1 hora e meia; tempo de um café, e de alguns preparativos feitos com mais esmero.

           Enfim, 09h30min. estava indo em direção a Paraty-Mirim, porém, decidi parar antes do centro da comunidade e parti em direção ao Saco do Mamanguá através de uma íngreme trilha que me levaria a Praia do Currupira. Deixei, portanto, de visitar e conhecer a Igreja de P. Mirim, a Prainha das Pedras, a das Pacas, a da tapera, Praia Grande, Praia da Bica e a Praia do Pontal, o acesso entre essas praias se da, quase que na totalidade, entre canoas e barcos, tirando um pouco o estilo “travessia” propriamente dito, então por esse motivo e com o agravante do horário avançado, deixei de fora essa parte do Saco.
          Após duas horas de caminhada e uma “perdida” que deu em um mangue (que provavelmente chegaria à Estrada que liga o Saco ao Condomínio Laranjeiras) encontrei-me na comunidade de Currupira, onde na praia um senhor desconfiado deu-me a informação de que o barco que estava vindo em nossa direção poderia fazer a minha travessia pelo outro lado do Saco. Esperei o dito barqueiro, mas ele deu meia volta em direção ao fundo do Saco. Voltei para a comunidade e, batendo nas casas, pedi informação de alguém que poderia realizar a travessia. Ao chegar nas casas, verifiquei que seus moradores não fazem a mínima questão de retirar a roupa do varal, mesmo com a chuva que insistia em me seguir. As respostas foram sempre negativas, pois os homens do local tomaram “chá de sumiço”. Retornei para a beira da praia e logo retornava a pequena embarcação. Dessa vez, acenei para o barqueiro que, após alguns minutos, estava na beira da areia com seu bote. Indaguei-o sobre a possibilidade da transposição do Saco e ele me afirmou que não poderia realizá-lo, mas seu companheiro que havia ficado na embarcação poderia fazê-lo e que logo ele estaria na orla da praia. Mais alguns minutos separavam o meu encontro com o barqueiro para fazer o acerto, que iniciou com o pedido de R$30,00 para a chegada a praia do Espinheiro ou R$50,00 para me atravessar ate a Praia do Cruzeiro, onde eu deveria acampar. Achei o preço meio salgado e resolvi pechinchar, ofertando R$20,00 para a travessia ate o Espinheiro, no qual foi aceito prontamente pelo pescador, pedindo apenas que esperasse mais alguns minutos, pois ele havia saído às 7 da manhã e deveria almoçar. Trato firmado, era apenas questão de esperar.
          Fiquei a espera no pátio de uma singela escola, vendo meu objetivo maior do dia, o cume do Pão de Açúcar, que queria subir naquela tarde, ser fechado por densas nuvens, deixando a trilha perigosa e lisa, portanto, abortado por precaução.
Pico Pão de Açucar, minutos ates das nuvens cobri-lo
Deixando a Praia do Currupira
          Eis que por volta das 13h30min, Gilmar retorna de sua casa para cumprir o combinado e em menos de 20 minutos já havia deixado para trás a Praia do Currupira e a Praia do Bananal ao lado direito, atracando na Praia do Espinheiro. 
           Logo mais vejo um barracão branco, algumas casas e uma igreja Assembléia de Deus, seguida do Posto de saúde e Associação de Moradores do Mamanguá; havia chegado na Praia do Cruzeiro, uma comunidade grande e percebi, pelo tempo de deslocamento entre a Praia do Espinheiro e do Cruzeiro, que pagar a diferença era rasgar dinheiro, tal a proximidade entre as duas comunidades. Passei alguns quiosques e uma pequena ponte. Ao pedir informação em uma das casas, fui abordado por uma simpática senhora, que incisivamente alertou-me de que não chegaria na próxima praia, e que deveria ficar em um local que ela dispunha. Pedi informações sobre um camping de um senhor chamado Orlando. A dita senhora me afirmou que era ali... Entendi então o porquê da insistência de ficar em sua propriedade...
           Cheguei ao local que tinha me causado curiosidade nos relatos que li. Trata-se das “Ruínas da Mansão do Coreano”. Uma verdadeira obra grandiosa aos pedaços, que foi demolida pelo IBAMA por estar em área irregular e que não poderia ser construída. Tal construção destoa totalmente dos ares simples e humildes que rodeiam a comunidade. Agora em trapos, percebe-se que, quando habitável, deveria ser uma construção colossal que abrigava uma série de atividades além-moradia. Aqui, senti certa dificuldade em seguir em frente, pois não sabia bem ao certo que rumo seguir. A tarefa ficou ainda mais difícil por conta de um “amigo” canino que tentava me ajudar...  Em seguida, após vários minutos, resolvi retornar um pouco e subir alguns degraus ao lado de uma casa paupérrima.  Nessa direção, a subida reta é em direção ao cume ao Pão de Açúcar, que foi abortado, eu segui a esquerda. Mesmo com dificuldade para achar a trilha na parte da ruína da mansão, ainda estava com tempo e resolvi seguir adiante, abandonando a idéia de acampar na comunidade do Cruzeiro. 
           Seguindo a frente, chega-se em uma mansão onde foi gravado um filme da série Crepúsculo, como a região da casa é grande, também perdi alguns minutos procurando a provável continuação da vereda e ali não havia nenhum vampiro teen para me socorrer. Pois bem, a mesma continua atravessando o gramado que sai bem atrás da casa principal. Passa algumas pontes e logo aportava na comunidade da Praia do Engenho. A dificuldade do caminho se dá, por incrível que pareça, quando chega-se nas comunidades. A infinidade de caminhos, trilhas e sendas é tão grande que fica difícil se orientar e saber qual caminho se deve seguir e, é lógico que mais uma vez, eu fiquei “rodando” pela vila a procura da continuação. Ficaria por muito tempo, não fosse um morador simpático que me ajudou indo mostrar-me a trilha em direção da Praia e a continuação do caminho que seguiria no outro dia. Em um entroncamento em cruz deve-se descer a esquerda para chegar à praia, ou subir para a direita para continuar o caminho. Como já se fazia tarde, fiquei na pequena e acolhedora Praia do Engenho que, providencialmente, há água doce encanada e um chuveiro de águas gélidas. Montei meu apartamento em um gramado, bem embaixo de uma grande árvore, um sombreiro avolumado que jazia nas areias amareladas. Não sem antes passar um temor: ao terminar de armar acampamento, vejo vindo em direção da praia uma embarcação com uma lanterna. Fiquei imaginando que algum “dono da praia” ficou sabendo da minha pretensão de passar a noite por ali e veio me enxotar do local. Com uma pequena distancia comecei a ouvir risadas e conversas amenas vindo do barco; fiquei mais aliviado. Ao atracar, desce um casal de esportistas, vindo do Rio de Janeiro para caminhar, afinal, a partir daqui acaba a travessia do Saco do Mamanguá e inicia a da Ponta da Joatinga.
Aguas limpidas da Praia do Engenho

Praia do Engenho


Local do 1o. Acampamento
          

Veja a continuação...http://rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da_11.html