quarta-feira, 11 de julho de 2012

Travessia Saco do Mamangua e Ponta da Joatinga - Parati/RJ - Parte 2 -

           Ao atracar, desce um casal de esportistas, vindo do Rio de Janeiro para caminhar, afinal, a partir daqui acaba a travessia do Saco do Mamanguá e inicia a da Ponta da Joatinga.


           Uma boa noite embaixo da árvore gigante e demorei a ajeitar as coisas. Subi os degraus ao lado da pequena casa e atravessei um gramado, deixando à esquerda o caminho que, erroneamente, peguei na tarde anterior que leva a uma pequena cachoeira e outras casas. Como de costume, iniciei a árdua subida, atravessando de um lado ao outro da ponta pela mata. O casal me acompanhou no inicio, mas logo se mandaram na frente, estavam com a carga mais distribuída e um pouco mais descansados. Bem, como já tenho certa experiência, resolvi ir um pouco mais “devagar com o andor”. Em seguida inicia a descida, chegando à Praia Grande do Cajaiba onde eu poderia mergulhar, mas com frio, chuva e mar agitado, de forma alguma seria uma boa idéia. Eis que a fome apertava e resolvi ficar embaixo de uma grande árvore, mas a chuva engrossou e voltei alguns metros para ficar abrigado em um puxadinho onde estava amarrado um ovino. Breve parada, com a companhia do alvo animal, segui em frente, atravessando um rio e chegando a um barzinho, no extremo da praia. La, sentados numa boa, o casal carioca esperava sua refeição e descansavam. Neguei e agradeci o convite para juntar-me a eles... Foi uma boa idéia. 

           A travessia continua e aporto na Praia do Itaoca, onde há uma pequena capela e um quiosque bem ao lado. Passa-se a Praia do Calheus onde há uma escola e um telefone público que funciona através de energia solar que não estava funcionando. Segue-se para a Praia de Ipanema, uma comunidade grande, onde há uma Igreja da Congregação Cristã e uma mini (mini mesmo) mercearia incrustada na rocha.  Continuo o caminho agora para a Praia do Pouso e no caminho, no alto do morro, vejo o cemitério, meio abandonado já ao longe, passei a entrada dele e nem percebi. Algumas casas e estou em frente da Igreja da Praia do Pouso, ao lado de um barzinho. Sento e fico descansando e fazendo uma pequena refeição pra inibir a fome. Aqui a trilha sai ao lado da igreja, passando por trás da escola e segue morro acima por uma trilha a direita. Subindo a trilha, uma parte cansativa que atravessa de um lado ao outro da ponta pela mata. Há um bonito mirante nesse trecho, mas como minha inseparável amiga chuva não me deu trégua, não pude vislumbrar com nitidez essa beleza. A descida é mais fácil e rápida que a subida, mas é um trecho que desgasta.  No final desse trecho, chega-se a um portão, propriedade de um senhor chamado Maneco, simpático e hospitaleiro, que deixa claro a todos que ali não é lugar de bagunça, e sim de paz e tranqüilidade. Faz o trabalho na Praia Martin de Sá que as autoridades ambientais deveriam fazer. O plano era acampar aqui, e confesso que fiquei realmente tentado com o convite do Seu Maneco, não pelos alertas dele de que não chegaria à outra praia com luz ou com o aviso de que não passaria uma cachoeira no caminho, mas sim pela acolhida e simpatia do local e do seu guardião. Porém, como eram 15h45min. resolvi arriscar o trecho que, segundo o morador, faria em 2 horas, ou em 1 hora e meia bem andadas. 
Praia de Itaoca

Ipanema

A super mini mercearia

          Atravessei pequenos riachos e a referida cachoeira com cuidado. Andando depressa, às 17h15min chego na casa de Seu Apricho, cunhado do Seu Maneco. Morador da Praia de Caiçuru das Pedras, é uma pessoa simples e amigável, me mostrou o local onde, depois de acertado o valor, deveria acampar. Um local lindíssimo, de frente para o mar, bem no alto, onde Seu Apricho deve ter gasto alguns consideráveis dias para forrar com areia da praia o camping. Estava iniciando os preparativos do camping, tirei apenas a lona da mochila quando o simpático morador vem ao meu encontro, dizendo que, caso eu desejasse, ele cederia um espaço ao lado de sua casa para eu dormir. Ótimo! Não precisaria gastar tempo e forças na montagem e desmontagem da barraca, sem contar que a noite já estava iniciando. Dormi em sua casa de farinha, feita de pau a pique. Só não ficou perfeito porque seu Apricho havia feito farinha de mandioca no dia anterior, caso tivesse feito naquela tarde, o forno ainda estaria quente e eu poderia secar minhas coisas e ficaria mais aconchegado. Mesmo assim, foi maravilhoso. Boa noite de sono e ainda trouxe uma excelente farinha para Curitiba. Fiquei imaginando como estaria o casal carioca que ficou para trás.
          A trilha sai do lado direito da casa e passei por uma grande pedra toda cheia de buracos arredondados, parecendo que veio do espaço. Entre um rio e outro chego a um trecho perigoso. Trata-se do rio com uma perigosa cachoeira, fui alertado, tanto pelo Seu Maneco quanto pelo Seu Apricho, que não passaria devido às fortes chuvas que encheram os rios. Realmente foi uma hora de tensão e uma certa apreensão me invadiu. Com autocontrole, sem permitir que o medo chegasse perto, pensei na solução com a cabeça fria. O rio bufava e a cachoeira abaixo era realmente assustadora, cair ali era, com certeza, fatal. O local da passada estava intransponível, ficava muito perto da queda e seria sandice pura passar por ali. Subi o rio em alguns metros e peguei um galho que serviu como apoio e delimitador de profundidade. Caso caísse de mal jeito ainda teria chance de me agarrar em alguma pedra. Ponderei, através da experiência que adquiri na Serra Paranaense (uma das melhores escolas para situações de perigo devido as dificuldades enfrentadas nela), que não poderia passar em trecho com água acima da coxa; água na cintura, com aquela força de água, seria ver São Pedro antes do tempo.  Iniciei a travessia por cima de algumas pedras, mas entrar na água seria inevitável. Procurei passar logo acima de algumas pedras, caso caísse elas seriam minha barreira. Ao descer da pedra, uma pequena escorregada faz meu coração bater mais forte; sem problemas, tudo estava sob controle, devagar fui chegando à outra margem. Após a travessia do rio, respirei fundo e segui o caminho, olhando para a temida cachoeira, realmente um perigo com aquele nível d'água. 
          Dez minutos depois estou na Praia da Ponta Negra.  Pegar a trilha para o Saco Bravo (onde uma cachoeira deságua no mar) tinha ficado para uma próxima aventura. Perguntei para alguns moradores sobre o caminho que deveria seguir e me alertaram que não deveria cruzar a ponte à esquerda, mas seguir reto pelo caminho. Mas acontece que andar pelas comunidades é um verdadeiro terror, pois não há indícios de qual “rua” deve-se seguir. Estacionei em uma casa onde o telhado de sua varanda estava caindo; parei, pois a fome apertava e decidi fazer um Sopão, pois estava molhado até os ossos e com frio.  Uma pequena abertura na emenda do cano e tinha água fresca para fazer a refeição. Enquanto esperava o rango ficar pronto, um morador veio falar comigo e saber para onde estava indo. Disse-me que o melhor a fazer era ficar por ali mais um dia e que, caso necessário, tinha mantimentos para mim. Seu argumento era que, na Praia do Sono eu não conseguiria atravessar uma barra (saída do rio no mar), pois o local não tinha ponte e a chuva, com certeza, teria feito subir o nível do rio consideravelmente.

          Nova apreensão, fiquei imaginando como seria essa passagem.  Haveria correnteza? Água acima da cintura? Poderia passar pelas areias da praia em segurança? Lembrei da temida cachoeira que havia passado minutos antes e voltei a sofrer.

Veja a ultima parte   http://www.rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da_5244.html
 
Ir para a 1a. Parte   http://rafakoz.blogspot.com.br/2012/07/travessia-saco-do-mamangua-e-ponta-da.html

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